quinta-feira, 16 de junho de 2011

Iniciação e transformação

Iniciação e transformação
FONTE: mario martinez

A nossa mente é separatista. Ela pensa em termos de divisão.  Isso torna a nossa vida fragmentada.  São pedaços que tentam, eu disse tentam, se tornar uma unidade, mas é impossível.  A vida é, por si mesma, uma unidade, mas a mente precisa dividi-la para poder entendê-la.  E por conseguinte,  tudo aquilo que a nossa mente afirma,  certamente é falso.  Como a parte, o fragmento, pode ser verdadeiro ?

A necessidade humana de se sentir total, de se sentir parte de alguma coisa, é frustrada pela própria mente que divide tudo.  E então o ser humano pensa que está separado de tudo,  que a divindade está lá,  num lugar inatingível,  longe de tudo.  O cristianismo foi uma das religiões que difundiu essa idéia:  “o homem é miserável porque se separou de Deus com o pecado original e agora tem que empreender um retorno”.  Mas como fazer isso,  se a humanidade não confia na vida, na existência ?   Quando nos sentimos um com a vida, todo o nosso medo ancestral  tende a desaparecer.  O medo da morte existe porque pensamos que estamos separados e então toda a luta se inicia.  Então começam as proteções,  você começa a se proteger e a lutar,  todo o conflito começa.  Mas aonde está o inimigo ?   Certamente que não está na existência, mas dentro de você.

A tendência natural é ver tudo e todos como inimigos.  Você é parte do todo, mas continua lutando contra ele.  Talvez seja por isso que a humanidade possui um sentimento de derrota incrustrado.  Até mesmo os grandes homens da história se sentiram derrotados, impotentes, mal-sucedidos.

Não sou sociólogo, sou religioso, só posso falar daquilo que conheço.  Posso dizer que uma pessoa religiosa está muito além da ansiedade, do medo, porque sabe que não existe um fim.  Entretanto, todo o segredo consiste na maneira como você encara os desafios.  Se perdermos nossa sensibilidade para os problemas e desafios,  fatalmente fracassaremos.  Pessoas insensíveis só conseguem resultados medíocres.  Uma coisa que eu sempre digo às pessoas que me procuram:  não procure por sensações; procure pela sua sensibilidade.

E isso são duas coisas muito diferentes.  Quando o interior cresce,  seu exterior também está crescendo.  É isso que a vida interior faz: nos torna capazes de sentir o sutil.  As pessoas precisam de mais sensibilidade,  mas lutam contra isso,  criam armaduras,  defesas,  e desse modo terminam morrendo antes de morrer.  Um dia me disseram uma coisa que eu nunca esqueci.  “Quando você tocar algo, torne-se o toque; quando olhar, torne-se os olhos; quando ouvir, deixe que toda a sua consciência venha aos ouvidos”.
Esse desejo de unidade com o todo é visceral. Porém a mente humana é separatista.  E então a mente cria armadilhas perigosas,  que terminam levando a pessoa para tão longe, mas tão longe, que ela termina perdida.  Agora mesmo existem grupos pseudo wiccans clamando:  “A Deusa está dentro de mim”,  e isso é motivo para se evitar qualquer busca verdadeira.  Se você acredita que encontrou algo,  para que continuar procurando ?  A Deusa já está dentro de você, então tudo acaba em samba.

Mas por que essa gente faz essa afirmação ?   Eles não sabem,  não sabem absolutamente.  Eles ouviram dizer isso.  Isso não é uma experiência real,  é uma armadilha.  Quando se conhece isso por experiência própria,  tanto o que está fora quanto o que está dentro é percebido como uma unidade, não estão separados, são dois aspectos da mesma energia.

Mas essa gente continua afirmando uma coisa sem ter experimentado, e eu acho isso totalmente contra producente.  Na verdade isso vem a ser outro truque da resistência dessas pessoas porque elas não querem ver a Deusa e o Deus do lado de fora.  Se elas admitirem que os Deuses também estão fora,  terão que admitir também a existência da figura de um mestre, de um sacerdote, de alguém para guiá-los.  E isso eles não querem.  São auto-suficientes.  É a Deusa quem inicia essa gente;  para quê existir Tradição,  para que aceitar que existem sacerdotes mais experientes que podem indicar o caminho ?  Se os Deuses estão fora,  sozinhos eles não serão capazes de encontrá-los.   

São esses paradigmas,  criados pela mente,  que terminam afastando as pessoas cada vez mais de uma verdadeira iniciação,  de uma verdadeira experiência religiosa.  Por isso eu sempre digo:  não tirem conclusões apressadas.  Nenhum sábio tira conclusões apressadas, porque todas as conclusões fazem a sua mente se fechar.  E então assistimos a pessoas auto-iniciadas,  que não receberam treinamento adequado,  fazendo afirmações idiotas.  Sou contundente ?  É esse o meu trabalho aqui.  Dizer a verdade.  Essas pessoas não conhecem,  não sabem o suficiente para fazer afirmações concludentes.  Uma conclusão só é válida se a pessoa experimentou tudo,  se conheceu tudo de maneira profunda.  O resto é balela.

Trata-se de um caso de resistência.  Na verdade todo mundo é resistente com relação aos Deuses.   Tudo é uma desculpa esfarrapada.  Querem saber por quê ?  Muito simples.  Porque se você quer conhecer os Deuses,  terá que desaparecer, terá que morrer para que os Deuses possam viver em você,  terá que se esvaziar da sua loucura,  de toda a insanidade que você considera como aquisição essencial na sua vida.  Isso é iniciação verdadeira,  essa morte,  essa transformação.  E então começam as desculpas, porque para se tornar religiosa a pessoa tem que renunciar a si mesma,  ao seu ego,  às suas neuroses, medos – esse é o único sacrifício.  Infelizmente todo mundo quer se tornar religioso sem renunciar.  Queremos permanecer nós mesmos,  mas nenhuma iniciação verdadeira o permitirá.  Então essas pessoas se auto-iniciam,  dizem que a Deusa está dentro delas sem terem vivenciado isso.

Quando é que essas pessoas aprenderão a lição ?   Quando deixarão de inventar desculpas ?

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